Bases de Argila Laterítica
Nas regiões tropicais úmidas ocorrem espessas camadas de solos lateríticos arenosos e argilosos, sendo os tipos argilosos mais freqüentes, a não ser em certas regiões, como por exemplo, no noroeste do Estado de São Paulo, onde predominam os tipos arenosos finos. Diante do exposto, é de extrema importância a utilização de argilas lateríticas em bases de pavimentos de baixo custo, principalmente nas zonas periféricas de crescimento urbano mais recente. Um dos primeiros trechos experimentais com base de argila laterítica foi o acesso norte de Campinas à Via Anhangüera (SP-330), executado no inicio da década de 50. Neste trecho utilizou-se o “envelopamento” da base com pintura betuminosa. No Plano de Pavimentação de 1958 do DER/SP, sub-bases e reforços do subleito foram executados em grande escala, com uso de argilas lateríticas. A partir de meados da década de 80 a construção de trechos experimentais com uso de argilas lateríticas foi retomada nos Estados de São Paulo e Paraná. A pavimentação urbana com o emprego de bases de argila laterítica se desenvolveu a partir de um diagnóstico errôneo de uma jazida, que deveria ser de solo arenoso fino laterítico, na cidade de Ilha Bela. Naquela ocasião, observou-se que a base, recém construída, contraiu em demasia resultando em um trincamento em blocos de 15 cm x 15 cm, com abertura de trincas de 3,0 a 4,0 mm. Devido ao fenômeno, a empresa executante não procedeu à aplicação de um revestimento betuminoso sobre a base extremamente trincada. A primeira providência técnica tomada para diagnosticar o elevado grau de trincamento da base foi o ensaio, pela Metodologia MCT, da jazida utilizada para a execução da camada. O ensaio demonstrou que a jazida não se enquadrava na especificação de um solo para o emprego em bases de solo arenoso fino laterítico (SAFL) pois, entre outros problemas, o produto dali extraído apresentava contração superior a 2,5% e CBR na umidade de moldagem para a energia intermediária, inferior a 20%. Para se enquadrar como SAFL, deveria apresentar contração inferior a 0,5% e CBR superior a 40% na umidade ótima. Portanto, o solo utilizado era na verdade, uma argila de comportamento laterítico (LG’), segundo a classificação MCT. A grande preocupação, além do baixo suporte, era a reflexão das trincas da camada de base para o revestimento fazendo com que, nos períodos chuvosos, a água percolasse para as camadas inferiores através da infiltração pelas trincas, instabilizando essas camadas. No caso do pavimento de Ilha Bela, as seguintes soluções poderiam ser executadas: – Remoção de toda a camada de base, mistura da argila laterítica com areia e execução de uma mistura do tipo argila laterítica e areia (ALA). – Preenchimento das trincas com areia fina através de varredura da superfície da base. A segunda solução foi adotada, acrescida da execução de um revestimento tipo macadame betuminoso selado, na espessura de 4,0 cm, com a finalidade de minimizar a eventual propagação das trincas. Para a recuperação da base trincada foram tomadas as seguintes providências: – Peneiramento da areia para preenchimento das trincas, retirando a fração superior a 0,42 mm. – Distribuição, por caminhão basculante, de montes eqüidistantes de areia e espalhamento da areia seca com a finalidade de preencher as trincas. – Irrigação da superfície de toda a base, fazendo com que parte da água infiltrasse nas trincas preenchidas com areia seca, carreando a areia para o fundo. – Repetição do procedimento do primeiro item, após a secagem da superfície irrigada. Varrição, em seguida, removendo todo o excesso de areia na superfície das placas trincadas. – Imprimação com CM-30, de toda a superfície, e execução de camada de rolamento com macadame betuminoso selado. A tecnologia foi estendida para a cidade de Jaú, no interior de São Paulo, com o intuito de substituir as bases convencionais de brita graduada simples, macadame hidráulico e betuminoso, por pavimento de baixo custo para tráfego leve. As primeiras experiências sistemáticas com o uso de bases de argila laterítica na cidade de Jaú ocorreram em 1986. Adotou-se, inicialmente, o procedimento que envolve a secagem da camada argilosa compactada, para o desenvolvimento de trincas, posterior fechamento das trincas com areia fina e aplicação de revestimento de macadame betuminoso relativamente espesso (aproximadamente 5,0 cm). A partir de 1988, iniciou-se a substituição do macadame betuminoso com capa selante, por revestimento com tratamento superficial betuminoso na espessura de 2,5 cm. Esse tipo de projeto foi executado em vias de tráfego de “muito leve” a “leve”, caracterizadas pela instrução de Projeto PMSP/92 anterior ao atual IP-02 de classificação de vias. Atualmente, em Jaú, o pavimento mais adotado, com base de argila laterítica, é constituído por: camada betuminosa aberta, de bloqueio sobre a superfície da base, com espessura aproximada de 0,5 cm e um revestimento de mistura betuminosa usinada a quente, com cerca de 2,5 cm de espessura. A calafetação das trincas de contração da base com areia fina foi substituída pelo enchimento, com material remanescente do processo de umedecimento, e corte da superfície da base após o período de cura. A extensão total de ruas pavimentadas, na cidade, com base de argila laterítica atinge mais de 500.000 m2. Fonte/ livro: “Pavimentos de Baixo Custo para Vias Urbanas” – Bases Alternativas com Solos Lateríticos (Douglas F. Villibor e outros)
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